Rua Caio Mario

30.6.07

R.I.P.

quando não há mais qualquer coisa após
o que vivemos juntos, a não ser
o fim, com a tragédia de sabermos
o fim, e a certeza da dor, atroz

quando você e eu não é mais nós
quando nós já não podem desatar-se
quando chorar-se não é mais catarse
e de berrar já se perdeu a voz

por mais que doa e que nos caia o céu
sobre os olhos abertos e os meus
rasguem-se de dor e feito papel

chovam corpos picados, aos seus,
por amor mesmo, e para ser fiel,
é preciso saber dizer adeus.

25.6.07

poema pop



quando seus dedos branco escarlate
tocaram na superfície gelo
da água verde piscina
um calafrio rosa bebê percorreu
sua espinha amarelo sangue
tingindo o chumbo gris do céu
com rajadas de azul chocante

21.6.07

erguer

erguer um pé – só – e esperar que este
toque o chão para erguer o outro que
só depois de tocar o chão de novo
deixará o primeiro por sua vez

levantar-se; e além de tudo isso
há a necessidade de mover-se
pra frente – sempre – além do perigo
iminente da queda, que haverá

de ocorrer, fatalmente, sucessivas
vezes e que não pode coincidir
jamais com o deixar de caminhar

mas com o levantar e o calmamente
recomeçar, pé ante pé, até
que já não haja como levantar-se.

15.6.07

a amêndoa

carne-ocre sob a pele-mate
escondida na gaveta ela jaz
e cheira à cânfora
naftalina entre madeira
e poemas – que ela não entende