Rua Caio Mario

23.7.08

morro dois irmãos

há pedras que se escondem sob a selva
cerrada – tímidas; há pedras que cobrem
suas vergonhas com neve, mesmo no verão;
há pedras, urbanas, que põem prédios sobre si,
prédios que possam protegê-las do olhar alheio;
poucas são as pedras que ostentam a própria nudez
à vista de todos como as costas de uma musa monumental

15.7.08

a planta dos seus pés
sobre o peito dos meus
pés e a noite inteira
para dançar sobre o carpete

11.7.08

cleing

Entrei no bar e o pianista tava tocando aquela música, como é mesmo o nome daquela merda de música, aquele jazzinho vagaba, the stars, starring at the, não, como é mesmo o nome? bom, tirei do bolso a arma e tôu no pianista e ele cleing no piano e todo o mundo óóó e eu fui logo tlôut em todo o mundo e tlôu e tlôu, três tiros, fora o pianista, atirei no menino porque ele tinha emprestado dinheiro pra marlene, no velho que era cupincha do menino que tinha emprestado dinheiro pra marlene, e na marlene, é claro, que morreu sujando de sangue e de mijo o tapete do bar, aí eu que não sou escroto deixei mil reais no balcão do bar e disse é pra comprar outro tapete, e saí daquela merda batendo a porta que fez cling clingue e ah, lembrei, stardust, é o nome da música.

4.7.08

querer

Para zarpar é preciso zarpar:
é preciso isolar do cais à força
o barco, mesmo que não haja tempo
mesmo que não haja mar, é preciso

zarpar para saber o que é zarpar,
é preciso vencer o que não quer
o mar e quer temer o que é perigo
do mar pois dos perigos que há no mar

o perigo maior mora no cais
por isso, quando tudo começar
por pior que o percurso possa ser

o pior já passou pois o pior
era não começar, pois o pior
jeito de naufragar é não partir