Rua Caio Mario

29.9.08

o meio de todas as coisas

entre o fim do começo e o começo
do fim toda coisa tem uma massa
inerte feito ponte pela qual
passamos distraídos – ou não:
os astecas sentiam chegar o exato
momento do meio da vida – o meio do meio
da vida, o momento em que o que já vivemos
é exatamente igual ao que ainda não vivemos
– e nesse momento preciso o mais comum
dos astecas sentia uma súbita e inexplicável
vontade de tomar um trem
mas como ainda não o tinham inventado
ele acabava por entristecer-se
(daí a tristeza, essa vontade de algo
que ainda não inventaram)

22.9.08

04:17 AM

estranhamente o frio é mais propício
ao encontro dos corpos
sob o edredom do que o calor que cala
sob os lençóis
qualquer vontade úmida de contato
com a sua perna


18.9.08

doces constelações

a boca treme sob o céu
de píncaros e pícaros e
palavras ditas e reditas até
perderem a sombra de sentido
até que só fique o branco
do céu a encharcar
nossos pés.

11.9.08

safo de lesbos

seu contorno noturno me transtorna
a pele morna sob a carne mansa
mais macia do que o manto-pêlo
do que o mar na coxa sua língua roxa
inverna mil calores seu biquini
mini me maltrata mil me estorva
e turva feito burca no calor do rio
mazurca na sanfona odes negras
no baião és foda e fazes falta
nessa terra pouco firme em que você
se vivesse cantaria mpb

8.9.08

rita is on acids em manaus


deusa da cor escarlate
no branco da tez explode
a molhadez da boca
sobre o microfone
choque-de-carmim bomba de cor
e sons de rasgar o céu
rubro e doce e líquido
como os lábios de um peixe