.
antes do big bang o mundo
era uma bola de ping pong
e ao redor dela nada nada
nada a não ser o silêncio
como nos pastos ou nas casas
em que já não mora mais ninguém
..
até que ao redor da bola o silêncio
do nada conspirou para que
surgisse a primeira raquete
e logo em seguida a segunda
e das duas o jogo e logo tudo:
o céu o chão a terra o trigo o pão
o pasto o pêlo a pasta o palm
top o lap top o pop rock e nós
...
quando anoitece e o silêncio
estronda novamente ao redor
das esferas pálidas não esquece
que basta um encontro de partículas
para assistirmos boca
e abertos ao nascimento do mundo.
23.3.09
16.3.09
de volta à Sofia
Sigo Sofia. Reparo na forma das suas pernas, no formato da sua bunda, ergo meu nariz para o ar e tento captar algum resquício do seu cheiro pela rua dos Oitis. Ela olha para trás e me surpreende com o nariz em riste. Ainda assustado, digo: Sofia? e ela: Oi? e eu: Que? e ela: Sofia? e eu: É. e ela: Silvia. e eu: Ah, desculpa, achei que fosse outra pessoa. E ela foi embora, até quem sabe nunca mais, eu pensei. Mas pelo menos eu tinha o nome de Sofia como refém: Sílvia.
em
1:20 AM
13.3.09
Martha
Conheci Martha na bilheteria de um cinema. Não. Foi no caixa de uma livraria. Não. Foi na fila de um banheiro. Isso. Foi na fila de um banheiro. Eu entrava no banheiro e ela já lavava as mãos. Não. Foi o contrário: eu lavava as mãos e ela entrava no banheiro. Não. Quando eu entrei no banheiro, Martha estava lá, sentada. Não. Eu estava no banheiro quando. Não. Talvez fosse realmente na bilheteria de um cinema. A verdade é que eu não lembro da primeira vez que eu vi Martha. Mas lembro da segunda.
A segunda vez que eu vi Martha foi deitada sobre o meio-fio, com uma ferida no rosto. Desci do táxi (esqueci de falar, eu estava num táxi). Perguntei: Tudo bem com você? e ela: Adivinha. e eu: Não. e ela: Não o que? e eu: Não está tudo bem. e ela: Era uma pergunta retórica. Me leva pra casa? e eu: Onde você mora? e ela: Para casa que eu digo é para a sua casa. E eu só me lembro até aí. O resto foi Martha morando na minha casa, esperando a ferida cicatrizar. Quando eu ia trabalhar, ela dizia: Traz iogurte? Nunca perguntei o porquê da ferida. Nem deixei de comprar iogurte.
A segunda vez que eu vi Martha foi deitada sobre o meio-fio, com uma ferida no rosto. Desci do táxi (esqueci de falar, eu estava num táxi). Perguntei: Tudo bem com você? e ela: Adivinha. e eu: Não. e ela: Não o que? e eu: Não está tudo bem. e ela: Era uma pergunta retórica. Me leva pra casa? e eu: Onde você mora? e ela: Para casa que eu digo é para a sua casa. E eu só me lembro até aí. O resto foi Martha morando na minha casa, esperando a ferida cicatrizar. Quando eu ia trabalhar, ela dizia: Traz iogurte? Nunca perguntei o porquê da ferida. Nem deixei de comprar iogurte.
em
12:08 AM
10.3.09
Mais Sofia.
Na Marquês de São Vivente eis que surge um rosto particularmente conhecido. É Sofia. Em carne e osso, e não mais feita de sonho, que é a matéria das mulheres etéreas. Não tem os olhos cinzas, não tem a boca tão vermelha, mas é Sofia (talvez em meu sonho ela use batom e lentes coloridas). Ela vira à direita na rua das Acácias e eu sigo atrás, a dez metros, como nos filmes. Já não tenho mais certeza se é Sofia. Crio um jogo comigo mesmo: se ela subir a Major Rubens Vaz, não é Sofia; se virar à direita na rua dos Oitis, é Sofia. Ela pára na encruzilhada. Hesita. Vira à direita. É Sofia.
em
6:58 PM
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