Rua Caio Mario

17.11.06


Era nossa primeira noite sem Barbara. A despedida tinha sido difícil. Deixamos ela na aeroporto, voltamos para casa quietos no carro. Em casa, a ausência de Barbara gritava. O quarto, a mesa, a cadeira, os livros. A ausência da Barbara se manifestava nos objetos.
Acordei com o barulho do temporal. Eram seis ou sete da manhã e a chuva torrencial só fazia crescer. O barulho da chuva era tanto que não consegui voltar a dormir. Abri a janela e levei um susto: lá fora o dia raiava sem sequer uma nuvem. Abri outra janela. Idem. E a chuva torrencial continuava, mas só barulho. Achei que estivesse sonhando um sonho estranhíssimo, onde a chuva só chovia barulho de chuva.
Abri a porta do meu quarto. E chovia na sala, nos quartos, na escada, na casa inteira. Só lá fora é que não chovia. O chão estava encharcado, o teto estava rachado, e das fendas do teto caía o temporal. Chamamos um encanador. Ele explicou que uma caixa d’água tinha estourado no sótão.
Essa explicação convenceu a todos. Menos a mim, que sempre soube que aquela chuva do teto era a casa chorando a ausência de Barbara.

12 comentários:

Alice Sant'Anna disse...

muito lindo.

Catharina Wrede disse...

Isso foi mesmo uma coisa fantástica. Incrível. Daquelas em que nenhuma explicação nos convence ou é suficiente. Não sabemos nada dessa...essa que é a verdade.

Catharina Wrede disse...

ops!
Não sabemos nada dessa VIDA...essa que é a verdade.

Clara Mellac disse...

Prefiro sua visão, Duvivs.
Além de ser verdade, é muito mais poético do que um mero cano estourado...
Beijos!!

Thaís Z disse...

Isso aconteceu mesmo? Caramba! Como a Naná disse, a vida tem mesmo dessas coisas inexplicáveis...

Lindo texto! Beijos

devaneios disse...

Muito lindo! (o texto e a poética inesperada do cano da sua casa).
saudades do meu irmão por tabela!
gostei muito do blog!

elis disse...

caramba, fantástico! me lembrei de um garcia marquez onde o sangue escorre pela porta da casa e invade toda a cidade...
e veja só, nesse ilha é chuva que não acaba mais...
gostei muito do blog!
beijo

Anônimo disse...

Lindo,simplismente lindo.
Fiquei arrepiada!

EDGAR DUVIVIER disse...

é mesmo lorinho. Casa tambem chora

EDGAR DUVIVIER disse...

é mesmo lorinho. Casa tambem chora

EDGAR DUVIVIER disse...

é mesmo lrinho. Casa tambem chora

Anônimo disse...

A saudade faz coisas que qualquer um duvida.